Fundo de emergência

03 fevereiro, 2021 por Aurélio Pita

De forma a minimizar o impacto de imprevistos na minha vida, tenho sempre disponível um valor monetário separado de todas as contas para utilizar apenas em caso de emergência. Isto é chamado de fundo de emergência.

Os livros de gestão financeira dizem que este valor deve ser no mínimo entre 3 a 6 meses do nosso custo de vida mensal.

Isto é, se gastamos 1.000€ por mês devemos ter no mínimo entre 3.000€ e 6.000€ nesta conta.

Para que serve

O fundo de emergência é a salvação quando as emergências acontecem. Uma emergência é algo que não conseguimos continuar a viver sem a resolver pois irá trazer-nos grandes consequências no futuro.

Como exemplo temos perder o trabalho, problemas de saúde ou reparação do sistema elétrico que queimou em casa e por isso estamos sem luz.

Importante, uma emergência não é comprar roupa, pintar a porta do carro que se riscou ou uma jantarada com uns amigos que só marcaram ontem. Isso pode ser um imprevisto mas não é uma emergência.

Usando este dinheiro apenas para emergências garante que ele está sempre disponível quando realmente precisamos dele, e acreditem, mais tarde ou mais cedo vamos ter que usá-lo.

Como usar o fundo de emergência

Recentemente recebi uma multa das finanças por falta de pagamento de portagens. Claramente algo que podia ter evitado mas não me apercebi que estava em dívida. A multa tinha o valor de 1.200€.

Como o valor era relativamente alto, poderia impactar a minha estabilidade financeira. Ainda por cima não tinha disponível 1.200€ à ordem. Por esses motivos considerei usar o fundo de emergência.

A pergunta seguinte foi: será isto uma emergência? A resposta foi sim, isto porque caso não o pagasse os juros fariam com que a dívida aumentasse e estaria cada vez mais numa situação pior.

Por esse motivo decidi usar o meu fundo de emergência.

O meu fundo de emergência

O meu fundo de emergência é de 9.200€. Isso permite-me sobreviver 12 meses com 766€ por mês, que é aproximadamente o meu custo de vida.

Isto ajuda-me a me proteger de situações de extrema emergência como perder o trabalho. Se isso acontecer, tenho 12 meses para arranjar um novo trabalho sem impactar a minha vida.

Neste caso da multa, como o valor era fixo, o que fiz foi transferir os 1.200€ do fundo de emergência para a conta à ordem e pagar a dívida.

Assim ficou a sobrar 8.000€ no meu fundo de emergência. Esse valor parece suficiente para próximas emergências, mas não é o valor que estipulei. Por isso o próximo passo foi repor os 9.200€

Repor o valor original

Nos meses seguintes o meu objetivo foi repor o valor de 9.200€. Para isso tive que abdicar de algumas coisas não essenciais. Repor esse valor passou a ser o meu objetivo principal.

Devido a esse foco, consegui repor o valor original em 2 meses. Atualmente com o fundo de emergência de volta aos 9.200€ sinto-me preparado e tranquilo para atacar a próxima emergência quando ela aparecer.

Como começar - A gazela e a chita

Para alguém que não tenha o hábito de poupar pode ser difícil colocar um valor assim tão grande de parte.

Por esse motivo, no livro Total Money Makeover o Dave Ramsey sugere começarmos com um fundo de emergência de 1.000€.

A ideia destes 1.000€ é começar a formatar a nossa mente para as poupanças e começarmos a estar preparados para pequenos imprevistos.

Uma das analogias que ele usa é de uma gazela a ser atacada por uma chita. A gazela para se salvar tem que fazer tudo o que pode para escapar da chita, um dos animais mais rápidos do mundo. A gazela vai correr, saltar e mudar de direção com intensidade máxima. É essa intensidade que a vai salvar e é essa intensidade que temos que usar para criar a nossa base do fundo de emergência. Nós somos a gazela e os problemas financeiros são a chita.

Enquanto não tivermos 1.000€ temos que estar em intensidade gazela. Isto é, tudo o que fazemos no dia a dia tem que ser direcionado a poupar 1.000€. Deixamos de ir comer fora, deixamos de beber copos com amigos, deixamos de comprar roupa e tudo o que não é estritamente essencial. Embora pareça um pouco extremo, é essa intensidade e esses 1.000€ iniciais que nos vão dar motivação e segurança para avançarmos com a nossa vida financeira.

Após guardar 1.000€

Após conseguirmos juntar 1.000€ passamos para um regime menos intenso. A ideia é conseguir elevar o nosso fundo de emergência para algo entre 3 a 6 meses de despesa mas sem sacrificar a nossa vida como na fase da gazela.

Para quem não tem o dinheiro, o ideal nesta fase é guardar mensalmente uma percentagem do seu salário até chegar ao seu valor. A sugestão é guardar pelo menos 10% do salário assim que o recebe.

Qual o valor certo

Não existe um valor certo para o fundo de emergência pois depende do quanto é estável a nossa vida. Para escolher o valor tenho em conta alguns pontos.

Primeiro é a estabilidade do meu trabalho, quanto mais estável menos dinheiro é necessário.

Segundo é quantas incertezas temos na vida. Se temos carro, casa própria ou fazemos atividades radicais esse valor deve ser maior.

Por outro lado, temos que ter em atenção que o dinheiro depositado nele está parado. Quanto mais dinheiro temos aqui, menos dinheiro temos para investir.

Onde guardar o fundo de emergência

Uma coisa importante é que este dinheiro não é suposto estar investido. O seu único objetivo é estar disponível rapidamente quando necessitamos dele.

Por esse motivo guarde-o numa conta poupança onde posso movimentá-lo para a conta à ordem no dia em que o imprevisto acontece.

Nota final

O fundo de emergência é um dos aspectos mais importantes na minha gestão financeira. Ele garante que mesmo com imprevistos, como a multa de 1.200€, eu possa continuar a viver a minha vida confortavelmente e sem grandes consequências.

Para quem não tem poupanças, a fase da gazela é a fase mais importante. Ela vai impulsionar o nosso hábito de poupança e fazer-nos estar preparados para a próxima emergência sem colocarmos as mãos na cabeça.

Se o teu objetivo é melhorar a tua vida financeira, o fundo de emergência é sem dúvida uma peça essencial.


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