A lebre e a tartaruga

13 julho, 2021 por Paulo Teixeira

A convite do meu amigo Zé, decidi escrever este texto. Confesso que não pensei em nenhum assunto em concreto, mas como sou leitor assíduo do blog, acho que falar de algo relacionado com investimentos faz todo o sentido.

Já há vários anos que investir faz parte da minha vida, nomeadamente:

  • investir na minha saúde
  • investir no meu conhecimento
  • investir na minha formação
  • investir nos diversos mercados financeiros
  • Etc, etc.

Há uma frase que costumo dizer várias vezes e que é algo como: “Não precisas de ser rico para investir… mas precisas de investir para ser rico”. Infelizmente, desde tenra idade, somos formatados a pensar que o normal é viver na “roda dos ratos”. Para os que não estão familiarizados com o termo, viver na roda dos ratos é:

  • Trabalhar (para)
  • Ganhar dinheiro (para)
  • Pagar contas (até ficar)
  • Sem dinheiro (e novamente)
  • Trabalhar…

Depois é só repetir este esquema ad aeternum até irmos desta para melhor! Aparentemente, a maior parte dos portugueses parece sentir-se confortável em viver assim, mas acredito piamente que é apenas por preguiça e falta de literacia financeira, de uma forma geral.

No que toca a investimentos e pegando numa fábula que toda a gente conhece - recontada por La Fontaine - há sempre dois tipos de pessoas: as lebres e as tartarugas. Toda a gente conhece esta história, certo?

As tartarugas são aqueles investidores sem pressa, consistentes, que acreditam que com a ajuda do tempo e aquilo a que Einstein chamou a 8ª maravilha do mundo (juro composto) podem atingir a sua liberdade financeira.

As lebres, são aquelas pessoas que nunca investiram na vida, nem fazem questão de o fazer, mas que também querem atingir a sua liberdade financeira… mas muito mais rápido do que as “tartarugas” e provavelmente através de um amigo que é especialista em Forex, mas na verdade percebe menos do assunto do que as “lebres”.

No que toca a investimentos, eu sou a tartaruga, como devem imaginar! Eu não sinto que seja mais inteligente, mais perspicaz ou melhor do que a maioria das pessoas. Aquilo que percebo, sem a mínima dúvida, é que sou muito mais consistente do que maioria. O meu sucesso advém dos hábitos positivos que desenvolvi ao longo dos anos e da consistência com que os aplico.

As pessoas não querem fazer coisas aborrecidas, as pessoas normalmente só querem fazer coisas divertidas. Posso dar vários exemplos:

  • A maior parte das pessoas não tem hábitos de leitura, logo, não lê.
  • A maior parte das pessoas não gosta de ter restrições alimentares, logo, come tudo que lhe apetece quando lhe apetece, sacrificando a saúde pelo meio.
  • A maior parte das pessoas não pratica atividade física de forma regular, logo, leva uma vida sedentária.
  • A maior parte das pessoas não sabe investir o seu dinheiro, logo, mantém-no no debaixo do colchão/no banco a ser comido pela inflação
  • Etc, etc.

A título de comparação directa com o exemplo supracitado:

  • Durante o ano de 2021, tenho lido em média 1 livro por mês
  • Faço uma alimentação saudável há mais de 10 anos
  • Treino com frequência há mais de 10 anos
  • Investi na minha formação para saber onde investir o meu dinheiro
  • Etc, etc.

Se eu prefiro ler ou estar na piscina com os meus amigos? Estar na piscina. Se eu prefiro um belo Sushi ao invés de bifes de frango com salada e arroz? Óbvio. Se eu prefiro estar a jogar Playstation com o meu grupo de amigos ao invés de treinar? Claramente. A questão é que se eu só fizer aquilo que bem me apetece em detrimento do que sei que é melhor para mim, vou ser apenas mais um no meio do rebanho e eu não aceito essa mediania na minha vida. A vida não “acontece”, não é “o que tem de ser”, não é “azar”… é o resultado das nossas escolhas diárias!

Como diz Einstein: “Insanidade, é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Se queremos resultados diferentes, temos de começar a pensar e fazer diferente, e podem acreditar que a vossa vida mudará de forma radical.

O problema, é que tal como na vertente financeira, quando se trata de investir na saúde continuam a existir os mesmos dois tipos de pessoas: as tartarugas e as lebres, e tal como no campo financeiro, também aqui podemos aplicar o efeito composto. A ideia do efeito composto de uma forma geral, é o princípio de vir a ter grandes recompensas (no longo prazo) com uma série de pequenas escolhas/mudanças no curto prazo.

O problema para as lebres é que embora os resultados futuros sejam fabulosos, no dia a dia, parecem não existir alterações significativas. Isto pode ser aplicado nas mais diversas vertentes, seja o assunto finanças, saúde, alimentação, etc. As pequenas mudanças diárias, numa fase inicial, são quase impercetíveis.

E é aqui que entra novamente a fábula de La Fontaine! Se não existem mudanças radicais rapidamente, as lebres perdem o interesse e voltam rapidamente à vida que faziam anteriormente. Enquanto as tartarugas continuam a sua pequena mudança, a trabalhar em silêncio, em prol de uma causa maior. Elas sabem que essas pequenas mudanças diárias não trazem mudanças significativas no curto prazo, não há recompensas, não há qualquer tipo de vitória… Então por que motivo devem continuar a esforçar-se?

Porque também sabem aquilo que a maior parte das pessoas não sabe: a importância do Efeito Composto no longo prazo. A título de mero exemplo, recentemente tive um colega próximo que começou a frequentar o ginásio, porque não estava satisfeito com o seu corpo. Desistiu ao fim de 3 meses porque não via “mudanças significativas”.

Outra pessoa que me contactou em plena pandemia, porque com o confinamento obrigatório acabou por engordar alguns quilos e queria perdê-los. Dei algumas dicas de alimentação e treino que essa pessoa passou a seguir, mas desistiu 1 mês depois, porque estava a ser demasiado sacrifício para tão poucos resultados visíveis.

Ou então o exemplo que mais ouço, quando aconselho as pessoas a investirem o seu dinheiro e algumas começam efetivamente a fazê-lo. Como não ficam milionários em 3 meses, acabam por desistir da ideia porque poderiam estar a usar esse dinheiro agora e porque em 3 meses nem deu “nada de especial”.

Aquilo que as pessoas tardam em entender é que esses esforços pequenos, diários e aparentemente insignificantes, feitos de forma consistente ano após ano, são o que lhes pode mudar a vida de forma radical em todas as vertentes: finanças, saúde, amor, conhecimento, alimentação, treino, etc, etc.

Poderia fazer mil e uma recomendações literárias mediante a forma como a escrita fosse fluindo, mas como seguiu este caminho, não tenho dúvidas em recomendar o livro “Hábitos Atómicos” de James Clear, que nos dá dicas e nos ensina formas bastante simples e práticas de ter melhores hábitos diários.

Bons investimentos,

Paulo Teixeira


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