A minha bicicleta contra um Renault Mégane RS

28 fevereiro, 2022 por Aurélio Pita

Este domingo, ao dar o meu passeio de bicicleta habitual pela vila onde moro, aconteceu algo que me fez pensar.

Estava eu a passar por uma rua mais estreita, onde não é possível um carro ultrapassar-me à vontade, quando ouço um motor muito potente e um cano de escape muito barulhento à minha trás. Encostei-me o mais à direita possível e deixei-o passar.

Sou um pouco ignorante no que toca a carros, mas consegui perceber que era um Renault Mégane RS, com muitos extras.

Uns minutos depois, um pouco mais à frente na rua, lá estava ele novamente a tentar encontrar um lugar para estacionar. Eu, mantendo o meu ritmo lento, ultrapassei-o enquanto ele olhava de um lado para o outro à procura de sítio.

Esta situação fez-me pensar em duas coisas. Primeiro, a minha consistência ao andar de bicicleta fez-me ultrapassar um carro muito mais potente. Segundo, eu estou tão contente com a minha situação atual, que mesmo ao ver um carro acima da média, não trocaria a minha bicicleta por ele.

Consistência

Este episódio fez-me lembrar, mais uma vez, a história da tartaruga e a lebre. É mais um lembrete de que a consistência a longo prazo é mais vantajosa do que motores potentes que são obrigados a parar de vez em quando.

Conduzir uma bicicleta é muito parecido com a filosofia que aplico na minha vida e investimentos. Conduzir uma bicicleta dá-me prazer, faz-me bem à saúde, ajuda o meio ambiente e permite-me manter a consistência a longo prazo, para alcançar grandes objetivos. Também é fácil de manter a funcionar e ágil o suficiente para mudar de direção quando necessário.

É claro que haverá um dia onde a chuva aparecerá e outro onde terei que subir uma encosta mais acentuada, mas isso não me fará parar, pois estou focado no meu destino.

Comprar o carro

Ver aquele carro fez-me questionar também a relação preço/valor. Ao chegar a casa, e após uma pesquisa rápida no google, apercebi-me que poderia comprar aquele carro por cerca de 40 mil euros, versão base. O site da Renault até facilita-nos a vida e faz-nos uma simulação de crédito automática, para vermos como será fácil pagar a prestação daquele carro.

Ao ler as letras pequenas do site, provavelmente obrigados por lei, dizem que o preço recomendado do carro é de 35.224€. O problema começa no preço de venda anunciado de 37.224€, sem extras. Ainda nem decidimos comprar o carro e já estão-nos a roubar 2 mil euros nas letras pequenas.

A proposta de crédito apresentada diz-nos que devemos dar uma entrada de 7.000€ e depois teremos uma prestação de 423,49€ por mês durante 8 anos, barato para o grande carro que é. Ao olhar com mais atenção vemos TAN de 7,65%, TAEG de 8,8% e MTIC de 41.183,04€.

Sem entrar em muitos detalhes, um carro que deveria custar 35.224€, terá o preço final de 41.183,04€. Isto é uma diferença de 5.959€ e ainda nem compramos o carro. O pior vem após a compra, mais precisamente 8 anos depois.

Oito anos depois, teremos finalmente o carro pago, gastamos 41.183,04€ mas agora o carro é nosso! Infelizmente, o carro valerá menos da metade do valor inicial, neste caso cerca de 17.000€.

Em oito anos, para termos um carro que o site da Renault diz ser fácil de pagar com um crédito, acabamos por perder mais de 23 mil euros.

Preço e Valor

Agora pensemos na relação entre preço e valor. Isto vai depender de pessoa para pessoa, mas para mim é claro. Um carro que me faz perder 23 mil euros em 8 anos não acrescentará esse valor à minha vida.

Eu tenho uma carrinha de 6.000€ e a minha bicicleta, oferecida, custou à volta dos 150€. A carrinha uso ao fim de semana, para passeios maiores, e a bicicleta uso diariamente.

O valor que esses dois bens materiais acrescentam na minha vida é gigante, comparado com o seu preço. Para comprá-los, não tive que me colocar numa situação financeira apertada, pois paguei tudo a pronto pagamento.

No final do dia é tudo uma questão de escolhas. Eu prefiro ter um carro mais barato que funcione, andar de bicicleta sempre que possível e investir todo o dinheiro que sobra desta decisão no meu futuro.

Estas pequenas decisões são como andar de bicicleta, pode parecer um processo lento e insignificante, mas com consistência acabamos por chegar muito longe.


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