A psicologia do dinheiro de Morgan Housel

22 abril, 2021 por Aurélio Pita

Um dos livros que me fez alargar a minha visão sobre finanças foi “A Psicologia do Dinheiro”, de Morgan Housel. Neste livro, o autor mostra que fazer dinheiro depende muito mais do nosso comportamento e dedicação do que da nossa inteligência e matemática pura.

Ao longo do livro ele apresenta várias ideias que mostram como a psicologia do dinheiro pode moldar a nossa visão sobre a vida e investimentos. Aqui ficam algumas dessas ideias.

Comportamento é mais importante que inteligência

Durante a nossa vida aprendemos a ver o dinheiro de forma matemática, por exemplo, se queremos 100.000 € basta guardar 500 € por mês durante 17 anos. A matemática não está errada, o grande problema é termos a disciplina para cumprir com a matemática.

O mesmo acontece quando queremos emagrecer, todos sabemos que devemos fazer exercício e ter uma alimentação mais saudável. Parece simples, até colocarmos em prática o nosso plano e desistimos uma semana depois.

Com o dinheiro acontece exatamente o mesmo, o grande problema é comportamental. Não há nada de mau em fazermos contas para ver quanto conseguimos poupar e quanto podemos ganhar num determinado investimento, o problema é que nos esquecemos do lado emocional. Podemos ser inteligentes o suficiente para perceber qual o melhor investimento, mas caso não sejamos metódicos para conseguir aplicar o plano, de nada servirá.

Por esta razão existem muitos casos de pessoas que ganharam milhões e acabaram por perder tudo. Por outro lado, também existem pessoas com vidas e trabalhos simples que acabaram por fazer milhões. O importante não é o que sabemos, mas sim como nos comportamos a longo prazo.

Ser razoável é mais importante do que ser racional

Criar riqueza é mais complexo do que um problema matemático, pois é necessário entender quem somos e como nos comportamos. Existem várias estratégias de investimento que funcionam na perfeição no papel, mas na prática poderão não ser adequadas para nós.

Uma das estratégias mais vantajosas dos últimos anos, pelo menos na teoria, são investimentos com alavancagem 2 para 1. Isto é, por cada euro investido, investimos 2 euros emprestados. Isto significa que quando o nosso portfólio crescer 5%, devido à alavancagem ele crescerá o dobro, 10%. Se o nosso portfólio crescer 50%, ganharemos 100%. No papel parece um investimento perfeito, mas temos que olhar para o lado emocional.

Uma alavancagem deste género também significa que se num determinado período os nossos investimentos forem negativos, também sentiremos a queda a dobrar. Uma queda de 10% fará perdermos 20% do nosso investimento. Uma queda de 50%, como aconteceu em muitos portfólios durante a crise imobiliária de 2008, fará perdermos 100% do nosso investimento. É necessário ser razoável e perceber se estamos confortáveis com essa situação, pois neste caso acabamos de perder todo o nosso investimento, que provavelmente levou-nos muitos anos a conseguir. Será que teremos a disciplina para começar tudo novamente do zero?

É aqui que entra o ser razoável. A nossa estratégia com o dinheiro tem que ser confortável o suficiente para nos mantermos focados no longo prazo. É mais importante mantermos um investimento menos lucrativo durante muitos anos, mas que estamos completamente confortáveis, do que estratégias que funcionam perfeitamente no papel mas causam-nos demasiado stress durante as crises, levando-nos a tomar decisões emocionais precipitadas e que por sua vez fazem-nos perder muito dinheiro.

Assim, conhecer o nosso perfil e entender o que é razoável para nós, é um dos passos mais importantes na nossa caminhada financeira, pois vai-nos permitir continuar a investir mesmo em tempos de crise.

Tudo tem um preço

Nos últimos 30 anos o S&P 500 teve um retorno de 946%, isto é, por cada 1.000€ investidos teríamos 94.600€ após 30 anos. Parece simples após ver o resultado final.

O problema é que tudo tem um preço e neste caso o preço é a volatilidade, medo e o stress que ela nos traz. Durante esse período o S&P 500 esteve várias vezes a perder 30%, sendo que chegou a perder 50% do seu valor em 2009. Ver os nossos investimentos perderem metade do valor e lidar com esse facto é o preço que temos que pagar para conseguir 946% de retorno.

Algumas pessoas pensam que podem prever o mercado e acreditam que podem comprar e vender ações na melhor altura. Caso acertem, com certeza farão muito dinheiro. O preço a pagar é que essa é uma estratégia arriscada e com pouca probabilidade de sucesso, sendo que o provável é perderem muito dinheiro a longo prazo. Outras pessoas acreditam que guardar o dinheiro numa conta a prazo é a melhor solução, assim evitam dores de cabeça. O preço a pagar é o baixo retorno e a possibilidade desse dinheiro valer cada vez menos devido à inflação.

Tudo tem o seu preço e devemos estar conscientes disso, mais tarde ou mais cedo a conta irá aparecer e devemos estar preparados para a pagar.

Mesmo se errarmos podemos vencer

Esta ideia é simples, ninguém acerta à primeira. Um dos casos demonstrados no livro é a Walt Disney. Durante os primeiros anos de existência a Walt Disney era uma empresa com prejuízo e com vários milhões em dívidas. Devido à persistência acabaram por conseguir criar um filme com sucesso, a Cinderela, ganhando milhões em poucos meses e catapultando a empresa para o estrelato. Desde então a empresa mantém-se estável e lucrativa.

Não importa quantas vezes falhamos, se mantivermos o foco e a perseverança conseguiremos bons resultados a longo prazo.

A riqueza é invisível

Quando falamos em riqueza, a maioria das pessoas apontam para bens materiais, mas como o autor Morgan Housel diz, é impossível ver a verdadeira riqueza.

Ao vermos um bom carro e uma grande casa, pouco sabemos sobre a riqueza da pessoa em questão. Ela pode realmente ter riqueza e vários milhões em investimentos. Por outro lado, pode ter apenas bens materiais e não estar preparada financeiramente para uma emergência. Outra possibilidade é ter todos os bens materiais à conta de empréstimos, estando num estado financeiro pior do que qualquer um pode imaginar.

A única coisa que sabemos em relação a uma pessoa que tem um carro de 100.000€ é que gastou esse dinheiro e agora está mais pobre. A verdadeira riqueza é invisível, é o dinheiro não gasto e investido. Riqueza é ter património que gera cada vez mais dinheiro, tornando a nossa vida cada vez mais confortável e menos propícia a imprevistos.

Ser rico e comprar a melhor casa e o melhor carro pode parecer um bom objetivo, mas ter riqueza em património é algo mais grandioso do que qualquer bem material.

Quanto é suficiente?

Vivemos num mundo onde não existe limite para a quantidade de dinheiro que uma pessoa pode ter em seu nome. Por essa razão é difícil avaliar quanto é suficiente para a nossa felicidade.

Alguém que ganhe 100.000 € por ano pode pensar que o seu salário é mais do que suficiente para ter uma vida confortável e feliz, mas se comparar com alguém que ganhe 1 milhão por ano pode achar necessário aumentar o seu salário. Quem ganha 1 milhão por ano pode olhar para alguém que tenha 10 mil milhões em património e achar que deve trabalhar para chegar a esse patamar. Quem já está nos 10 mil milhões pode olhar para os 190 mil milhões do Jeff Bezos e pensar que está longe da sua felicidade.

É importante pensarmos qual o valor suficiente para a nossa felicidade, de forma a evitarmos inveja ou pensamentos negativos, pensando que não somos suficientemente bons, mesmo quando estamos a fazer algo extraordinário. 

O objetivo final deverá ser a nossa felicidade e temos que nos lembrar que o dinheiro é apenas uma ferramenta para criar liberdade e tudo depende do que liberdade significa para nós.


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