A riqueza ao olhos do povo
19 fevereiro, 2021 por Aurélio Pita
Fomos levados a acreditar pelos média e pela quantidade de publicidade que nos é apresentada que a riqueza é baseada no consumismo, isto é, uma pessoa rica aos olhos do povo é quem tem a melhor casa, o melhor carro, a melhor roupa e o melhor telemóvel. Não nos deixemos enganar, nenhum desses bens materiais é sinónimo de riqueza.
Com a facilidade ao crédito de hoje em dia, qualquer pessoa pode ter uma boa casa ou um bom carro. Com o que sobra das prestações compra a melhor roupa possível e já está, é uma pessoa rica, pelo menos aos olhos dos outros. Ninguém imagina que essa pessoa terá que trabalhar muitos anos para pagar as suas dívidas e que provavelmente nem tem dinheiro no banco para ultrapassar uma emergência mais grave.
A riqueza não deve ser representada pelos bens materiais que mostramos mas sim pelo valor real do nosso património e da tranquilidade que esse valor nos proporciona.
Património
Calcular o património é simples e matemático, basta listar tudo o que temos e subtrair tudo o que devemos, o valor final será o nosso património.
Por exemplo, se eu comprei um carro de 20.000€ com um empréstimo a 5 anos e uma taxa de 8.4%, o valor final é de 24.000€, isto é a minha dívida.
Uma vez que após comprar o carro este perde valor, no dia seguinte o meu carro vale 18.000€. Isto faz com que o meu património após um dia seja de -6.000€.
Eu fiquei mais pobre com esta compra, mas toda a gente pensa que eu estou mais rico pois tenho um carro melhor.
Se fizermos esta conta para tudo o que possuímos e somarmos o que está no banco e investimentos, teremos uma visão real do nosso património global. Este valor está muito mais perto do conceito de riqueza que eu apoio, mas ainda não é tudo, isto porque para mim falta a tranquilidade que esse valor nos proporciona.
Tranquilidade, a verdadeira riqueza
Alguém com um património de 200.000€ é à partida mais rico do que alguém com 100.000€, mas se dissermos que a primeira pessoa tem um custo de vida mensal de 5.000€ e a segunda de 1.000€, qual será realmente mais rica?
Se a pessoa com 200.000€ deixar de trabalhar, consegue manter o seu estilo de vida por 3 anos. Por outro lado, se a pessoa com 100.000€ deixar de trabalhar, consegue manter o seu estilo de vida por 8 anos.
Aqui entra o que para mim é a verdadeira riqueza, a tranquilidade que o nosso património nos proporciona pela sua relação com o nosso custo de vida. Isto é, quantos mais anos conseguimos viver com o nosso património sem sermos escravos do trabalho, mais ricos somos.
Existem outros conceitos de riqueza, de tranquilidade e outras formas de viver sem trabalhar, nomeadamente fazer com que o nosso património gere dinheiro, mas estão fora do âmbito deste ponto de vista.
A ideia que quero transmitir é: o que as pessoas mostram no dia a dia não é sinónimo de riqueza, para isso é necessário calcular o património real. O valor do património é uma métrica mais aproximada à verdadeira riqueza mas para ser verdadeiramente representativo temos que avaliar também o custo de vida e a relação entre ambos.
Este é mais um exemplo onde o consumismo alterou a nossa visão sobre o mundo e levou-nos a acreditar que o visível é mais importante do que a estabilidade da nossa vida. Cabe a nós mudarmos isso, temos que começar a falar mais sobre património e estabilidade em vez de mostrarmos a marca do nosso carro e os metros quadrados da nossa casa.