Adaptação hedónica
13 fevereiro, 2022 por Aurélio Pita
O conceito é simples, nós temos um nível de felicidade pré-programado no nosso cérebro e é ele quem determina a nossa felicidade a longo prazo.
Num estudo de 1971, para provar esta teoria, Brickman e Campbell compararam os níveis de felicidade de pessoas que ganharam a loteria com pessoas que tiveram o azar de ficar paraplégicas. Os resultados foram surpreendentes.
Eles descobriram que após estes acontecimentos, há uma alteração brusca na felicidade, como esperado, mas após uns anos, os que ganharam a lotaria não estavam mais felizes que os paraplégicos. Os paraplégicos por sua vez também não estavam mais infelizes que a população geral.
Outros estudos foram feitos ao longo dos anos. Lucas, Clark, Georgellis e Diener (2006) estudaram a felicidade comparando o estado civil, nascimento do primeiro filho e desemprego. Os resultados apontaram na mesma direção, as pessoas adaptam-se totalmente, regressam ao seu nível base de bem-estar após um divórcio, a perda de um cônjuge, o nascimento de um filho e a perda de emprego.
Ao termos conhecimento desta informação, podemos usá-la para tomar decisões na vida mais alinhadas com a criação de felicidade a longo prazo. Um exemplo disso, é deixar de sofrer por antecedência.
Não sofrer por antecedência
Se sabemos que vamos sempre adaptarmo-nos ao que a vida nos proporciona, não precisamos de gastar energia a sofrer com antecedência. Tudo será resolvido e eventualmente tudo será considerado normal, reiniciando o nosso nível de felicidade.
Por outras palavras, temos que ser otimistas, contar com o melhor e acreditar que tudo vai correr bem. Se algo mau acontecer, é o ciclo normal da vida, logo estaremos de pé novamente quando o nosso cérebro aprender que isso é o novo normal.
Saber quanto é suficiente
Outro ponto que considero importante é saber quanto é suficiente. Se sabemos que ganhar mais dinheiro, ter um carro novo, ter uma casa maior, vestir roupa mais cara, não traz felicidade a longo prazo, podemos viver uma vida mais tranquila sem querer sempre mais.
É aqui que entra a frugalidade na minha vida. Eu sei que não dependo de bens materiais para ser feliz a longo prazo e mesmo que compre algo novo agora, dentro de uns meses será apenas normal.
O que fazer com o dinheiro?
Se tudo isto é verdade, se ganhar mais dinheiro não aumenta a felicidade a longo prazo, ter um blog onde falo de investimentos pode parecer contraditório.
Eu acredito que o dinheiro em si não traz felicidade, especialmente se usarmos para consecutivamente inflacionar o nosso estilo de vida. Para mim, o dinheiro deve ser usado para providenciar estabilidade.
Sabemos que aconteça o que acontecer, acabaremos por voltar ao nosso nível base de felicidade, mas isso não significa que devemos ser imprudentes.
Ter mais dinheiro sem inflacionar a nossa vida faz com que possamos viver com mais estabilidade financeira e deixarmo-nos de preocupar com possíveis acontecimentos negativos nessa área.
Quanto menos acontecimentos negativos, menos períodos infelizes teremos. Mesmo sabendo que eventualmente tudo se resolve, é bom saber que a probabilidade desses períodos negativos aparecerem é baixa.