Pensar a longo prazo
29 maio, 2021 por Aurélio Pita
Traçar objetivos a longo prazo é mais difícil do que parece. Nós, seres humanos, fomos treinados para pensar no curto prazo. Na idade das cavernas, arranjar comida e fugir de coisas perigosas era o nosso objetivo. Chegar ao fim do dia vivo, era um sucesso. Desde então, o nosso cérebro está focado em nos proteger, para ele, o mais importante é sobreviver o dia de hoje.
Os tempos foram evoluindo, atualmente temos comida praticamente garantida e a probabilidade de morrermos de um dia para o outro é muito baixa. No entanto, o nosso cérebro continua em modo sobrevivência, e por esse motivo é muito difícil fazermos planos a longo prazo.
Quando somos dados a escolher entre ter uma satisfação hoje ou daqui a 10 anos, o nosso cérebro estará inclinado para escolher o dia de hoje, é biológico. Mas se formos racionais, e sabendo que a esperança média de vida em Portugal é de 81 anos, devemos equacionar a satisfação do futuro.
Um exemplo prático poderá ser alguém que não tem poupanças e ganha 20 mil euros de um dia para o outro. O cérebro, que pensa que vamos morrer em breve, diz-nos para gastar o dinheiro e usufruir o máximo da vida antes que ela acabe, provavelmente fazer uma festa e comprar algo como um carro novo, já que o atual está um pouco fora de moda.
Se por outro lado formos racionais, podemos ver que essa decisão a longo prazo não é muito vantajosa, e provavelmente criará problemas no futuro. Por exemplo, ao comprar o carro, estamos a perder duplamente.
Primeiro, ao comprar algo como um carro, que perde valor ao longo dos anos, não só perdemos os 20 mil euros como também aumentamos o nosso custo de vida no futuro, uma vez que é algo que sempre nos vai dar despesas.
Segundo, perdemos a possibilidade de criar dinheiro. Alguém que pensa no futuro sabe que viverá muitos anos, e se colocar o dinheiro a trabalhar para si hoje, poderá viver dos investimentos no futuro. Isto faz com que daqui a uns anos possa comprar um carro, ou qualquer outra coisa, com o dinheiro gerado do investimento, fazendo com que o dinheiro original seja sempre mantido.
Isto acontece não apenas quando ganhamos 20 mil euros, mas com qualquer dinheiro que recebemos, por mais pequeno que seja. Um aumento de 100€ no salário, por exemplo, pode significar duas coisas: mais consumo hoje ou mais segurança no futuro.
Este pensamento também é válido para outras coisas que não dinheiro, por exemplo saúde. Devemos comer um hambúrguer hoje, matar a fome e saciar o cérebro, ou evitá-lo para que a nossa saúde seja mais forte no futuro?
Pensar no longo prazo terá sempre as suas vantagens e desvantagens, mas uma coisa é certa, nós já não vivemos numa caverna e a probabilidade de vivermos muitos anos é grande. Eu diria que vale a pena ter isso em consideração.