Viver num apartamento com trinta metros quadrados
22 setembro, 2021 por Aurélio Pita
Eu sou fã de viver bem abaixo do meu salário. Isso obriga-me a tirar o máximo valor das pequenas coisas e simplificar a minha vida. O apartamento onde vivo, com a minha namorada, é um perfeito exemplo disso.
Visualizem um apartamento com 30 metros quadrados, com um quarto-mezanino e uma casa de banho. Situado no quarto andar, sem elevador. Parece primitivo viver nestas condições, mas é algo que me dá imenso prazer.
Localização
O primeiro ponto importante deste apartamento é a sua localização. Nós vivemos numa pequena cidade com 11 mil habitantes, que podemos chamar de vila. Aqui temos cinema, supermercados, restaurantes, bares e praia, tudo a uma distância de 5 minutos a pé.
Sair de casa e poder caminhar para todo o lado é das minhas coisas favoritas. Falta-me fruta? Desço os quatro andares, viro a esquina, aí está a frutaria, compro o que tenho a comprar, e volto para casa. Não passaram 10 min, fiz exercício físico, descendo e subindo as escadas com a minha mochila às costas, respirei ar fresco e cumprimentei o vizinho que conhece-me da rua.
Ao final do dia costumamos dar um passeio, a pé ou de bicicleta, e mais uma vez sem necessidade de usar o carro para ir para um sítio bonito. Basta sair à porta, virar a esquina e tenho uma frente mar onde posso passar horas sem me aborrecer. Quando vou sozinho, aproveito para ouvir um podcast ou um audiolivro.
Importante referir que trabalho desde casa, e a minha namorada trabalha atualmente a 12 minutos de carro. Não depender das grandes cidades para viver, é sem dúvida algo que quero continuar a aplicar na minha vida. Este pequeno apartamento mostrou-me que, mais importante do que o tamanho da casa, é a sua envolvência no nosso dia a dia.
Espaço para guardar tralha
O segundo ponto que me agrada numa casa tão pequena, é o facto de não permitir-nos guardar tralha. Ao olhar ao redor vejo a minha bicicleta, que uso diariamente, um armário com as nossas roupas, uma estante com alguns livros, uma televisão, que já estava no apartamento mas não a utilizamos, um ukulele que deveria tocar mais vezes, e um quadro que a minha namorada pintou. Existe um ou outro adorno, mas nada que nos dê muito trabalho a limpar o pó.
Não existe muito mais espaço para guardar coisas que não vamos utilizar com frequência. É impensável comprar uma máquina de ginásio milagrosa, uma bicicleta estática, ou um sistema de som que apenas vamos utilizar para mostrar aos amigos. Não temos espaço!
Na cozinha temos o essencial, uma frigideira, três panelas e uns tupperwares. No balcão temos um microondas e um robot de cozinha.
O incrível, é que mesmo tendo relativamente poucas coisas, não sinto necessidade de comprar mais nada. E acreditem, das dez gavetas que consigo contar desde o sofá onde estou a escrever o artigo, algumas delas estão completamente vazias.
A casa pequena faz-me ter consciência do que realmente uso com frequência e não me deixa cair em compras desnecessárias. Tudo o que compro tem que ser usado, caso contrário, vou ter um problema de armazenamento.
Custo
Outra vantagem da casa pequena, é que claramente terá menos despesas. Se combinarmos isso com o facto de vivermos numa vila, os valores descem drasticamente, quando comparados com as grandes cidades.
A despesa do dia a dia também é menor. Por exemplo, a conta da luz será mais pequena, pois temos menos luzes para acender. A manutenção geral da casa também será mais barata. Pintar 30m2 será aproximadamente 4 vezes mais barato do que pintar uma casa com 120m2, o normal em Portugal.
Se vivermos numa casa arrendada, tudo isto conta para que a renda seja mais baixa. Quem fica a ganhar somos nós, pois conseguimos viver uma vida financeiramente mais tranquila.
Tempo livre
Manter uma casa pequena arrumada parece ser mais difícil. Basta apenas uma peça de roupa estar fora do lugar, ou ter louça para lavar, e tudo parece desarrumado.
A grande vantagem é que com apenas 5 minutos, tudo fica no sítio. Ao fim de semana, quando decidimos fazer uma limpeza mais profunda, em 30 minutos tudo fica a brilhar.
Não tenho que pagar a senhora das limpezas, nem perder o sábado a arrumar a casa. Tudo é feito rapidamente e sem muito esforço.
Também existem coisas más
É claro que nem tudo é perfeito, viver num apartamento tão pequeno também traz-nos desafios, sendo o maior deles a falta de espaço pessoal.
No dia a dia, em lazer, geralmente não é problema. O problema acontece quando um de nós tem que estar focado, geralmente a trabalhar, e o outro necessita fazer tarefas que provocam barulho ou exigem muita movimentação.
Felizmente essas situações acontecem poucas vezes, e quando acontecem, conseguimos gerir de alguma forma, por exemplo, utilizando a biblioteca municipal. Mais uma vantagem de ter tudo perto de casa.
A casa perfeita
Eu mudaria poucas coisas nesta casa. A localização é excelente, o estilo de vida que proporciona é o que quero, ajuda-me a ser consciente em relação ao consumismo, e por consequência, ajuda-me a melhorar o meio ambiente e a minha carteira.
No futuro, uma vez que pretendo continuar a trabalhar em casa, equaciono ter um quarto privado, para o escritório. A cama pode continuar a ser num quarto-mezanino, é uma excelente forma de aproveitar o espaço. Num futuro ainda mais distante, se tivermos filhos, posso necessitar de mais um quarto, mas isso pode ser reavaliado quando estiverem para nascer. Não é algo que me preocupa de momento.
Não sou apologista de fazer grandes casas a pensar em tudo o que pode acontecer no futuro. Uma vez que vejo a casa como algo funcional, ela deve ir-se adaptando ao meu estilo de vida ao longo do tempo, sem necessidade de pagar mais agora, por algo que posso nem vir a utilizar no futuro.
A casa perfeita depende de cada um de nós. Eu, cada vez mais, gosto da ideia de viver numa vila onde tudo está perto, sem ter que usar o carro no meu dia a dia. Um pouco mais de espaço não fazia mal, mas também não sinto uma grande necessidade em satisfazer esse desejo.
Por agora, vamos continuar a viver em trinta metros quadrados, com todas as vantagens e desvantagens que isso traz-nos. No futuro, se algo mudar, logo vemos.